Pela primeira vez na história, a energia limpa assume a liderança na geração elétrica mundial. O avanço das fontes solar e eólica redefine o equilíbrio energético e marca o início de uma nova era sustentável.
A virada que muda o curso da história
O planeta acaba de testemunhar um marco inédito: as energias renováveis ultrapassaram o carvão como principal fonte de eletricidade global. O levantamento, conduzido pelo think tank internacional Ember, mostra que o crescimento acelerado da energia solar e eólica foi suficiente para suprir todo o aumento da demanda elétrica mundial no primeiro semestre de 2025 — algo jamais registrado.
Mesmo com o consumo de energia em expansão, o avanço das fontes limpas foi tão expressivo que provocou uma leve retração na geração por carvão e gás. O dado é simbólico, mas representa o início de uma transformação estrutural na matriz energética global.
O mapa desigual da transição
Embora o feito seja global, os caminhos trilhados pelas nações são distintos. A China, principal motor da revolução verde, adicionou mais capacidade solar e eólica do que o resto do mundo combinado — crescimento suficiente para reduzir em 2% sua geração a partir de combustíveis fósseis.
A Índia também segue em ritmo positivo, expandindo parques solares e eólicos e reduzindo gradualmente o uso de carvão e gás.
Já nas nações desenvolvidas, o cenário foi oposto: os Estados Unidos e a União Europeia enfrentaram alta na demanda e condições climáticas desfavoráveis, o que resultou em maior dependência de combustíveis fósseis.
Um ponto de inflexão para o setor elétrico
Para a analista sênior do Ember, Malgorzata Wiatros-Motyka, o momento representa “um ponto de virada crucial”.
“A energia limpa finalmente está crescendo no mesmo ritmo da demanda mundial”, destaca.
A energia solar foi a grande protagonista dessa expansão, respondendo por 83% do aumento da demanda global. Desde 1975, os custos dos painéis solares caíram 99,9%, o que tornou possível o crescimento explosivo em países de baixa e média renda, responsáveis hoje por 58% da nova capacidade solar instalada.

O boom solar do Sul Global
Nações emergentes estão à frente dessa transformação. O Paquistão, por exemplo, importou equipamentos equivalentes a 17 gigawatts (GW) em 2024 — o dobro do ano anterior.
Na África, o ritmo também é impressionante: as importações de painéis solares cresceram 60% até junho de 2025, com a África do Sul na liderança, seguida pela Nigéria e pelo Egito. Países como Argélia, Zâmbia e Botsuana apresentaram aumentos exponenciais.
Entretanto, o avanço acelerado traz novos desafios. No Afeganistão, o uso intensivo de bombas d’água movidas a energia solar tem reduzido os lençóis freáticos, colocando em risco o abastecimento hídrico de milhões de pessoas nos próximos anos.
Sol, vento e desafios regionais
Segundo Adair Turner, presidente da Energy Transitions Commission do Reino Unido, o mundo está dividido entre a “faixa solar” — composta por países da Ásia, África e América Latina — e a “faixa eólica”, concentrada no norte da Europa.
Nos países tropicais, a geração solar atende perfeitamente à alta demanda diurna, especialmente com o barateamento das baterias de armazenamento. Já nas regiões de ventos instáveis, os custos de implantação e manutenção de parques eólicos ainda representam um desafio, agravado por taxas de juros mais altas e períodos prolongados de calmaria no inverno.
A força tecnológica da China
O domínio chinês nas tecnologias de energia limpa é incontestável. Em agosto de 2025, o país registrou um recorde de US$ 20 bilhões em exportações de produtos sustentáveis, com destaque para o aumento nas vendas de veículos elétricos (26%) e baterias (23%).
Hoje, esses dois segmentos já movimentam mais que o dobro das exportações de painéis solares — consolidando a China como potência global da transição energética.
Um futuro que já começou
O avanço das fontes renováveis não é mais uma tendência — é um fato histórico. A virada global de 2025 marca o início de um novo ciclo em que sustentabilidade, tecnologia e independência energética se tornam indissociáveis.
Apesar dos desafios, a trajetória é clara: o futuro da eletricidade será solar, limpo e descentralizado.



















